Wednesday, November 15, 2006

Morador no Bairro Alto manda factura a Carmona

Um morador no Bairro Alto, fora da zona de acesso condicionado, enviou, no passado dia 7, uma carta ao presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Carmona Rodrigues, pedindo-lhe que autorize o pagamento de uma factura de táxi referente a uma deslocação de regresso a casa, depois de ter sido obrigado a ir deixar o carro à garagem de familiares, noutro bairro da cidade. Nuno Caiado garante que, no passado dia 4, ao regressar a casa, por volta da meia-noite e meia, andou mais de uma hora às voltas, "em carrossel", à procura de um lugar para estacionar nas ruas do Bairro Alto.
Mas acabou por desistir, "já que centenas de carros de forasteiros, utilizadores dos inúmeros restaurantes e bares do bairro, enchiam por completo as ruas, bloqueando passeios e a normal circulação dos autocarros e das viaturas de recolha de lixo". Embora agravada aos fins-de-semana, Nuno Caiado garante que esta situação ocorre diariamente, "com a total benevolência, passividade e conivência da PSP, Polícia Municipal e de todos os serviços municipais com alguma responsabilidade na matéria".
O morador responsabiliza a autarquia pela situação "caótica e selvagem" que se vive na zona e acusa-a de se ter "demitido do seu papel essencial, que é a gestão do espaço público". "O estacionamento não é objecto de ordenamento e fiscalização", diz Nuno Caiado, explicando que, apesar das placas que alertam para o facto de se tratar de uma zona tarifada para não-residentes, o estacionamento é "completamente gratuito". Segundo o morador, a fiscalização da EMEL "desapareceu totalmente do bairro há quatro anos", deixando para trás apenas parquímetros "enferrujados e inúteis".
Também a PSP é acusada de não ter qualquer intervenção dissuasora ou preventiva, nem de exercer funções repressivas.
Nuno Caiado - morador no Bairro Alto há mais de 15 anos - garante que, este ano, já foi a sexta vez que teve de ir deixar o carro na garagem de familiares. E explica que, todos os dias, demora entre 20 a 50 minutos para conseguir arranjar um lugar de estacionamento. Cita, inclusive, o caso de um vizinho que teve de ficar a dormir no carro, estacionado em segunda fila, até às 4 da manhã, para conseguir arranjar lugar.
A Câmara Municipal de Lisboa reconhece a situação descrita pelo morador do Bairro Alto e admite avançar com algumas das sugestões feitas por Nuno Caiado para ajudar a resolver o problema do estacionamento. Ao JN, fonte do pelouro do Trânsito e da Mobilidade disse que está em estudo o alargamento da zona de acesso condicionada e a criação de bolsas de estacionamento só para residentes, duas das medidas propostas pelo morador ao JN.
A mesma fonte admite que, "devido à onda de vandalismo de que foi vítima, há cerca de dois anos, a EMEL deixou de actuar nalgumas zonas, sendo o Bairro Alto uma delas. Contudo, garante que a empresa está a pouco e pouco a voltar para disciplinar o estacionamento na zona.

Friday, November 03, 2006

Falta de higiene revolta moradores

O autor é desconhecido, mas a obra tem feito furor no Bairro Alto e até arrancado algumas gargalhadas a moradores, transeuntes e comerciantes. Trata-se de uma casa de banho improvisada, criada por alguém que, com um toque refinado de ironia, vem chamar a atenção para um problema muito sério que tarda a ser resolvido.
"Mijáki" é o nome do projecto inovador. Dois painéis coloridos pintados a amarelo-vivo convidam os transeuntes a satisfazer as suas necessidades em urinóis improvisados no meio da rua. Por baixo de cada um dos painéis, com cerca de três metros de comprimento, está uma calha ligada a uma mangueira que despeja a urina para a sarjeta mais próxima.
As engenhocas foram detectadas pelos moradores da zona há uma semana, na Rua das Salgadeiras. Apesar de surpreendido, Celestino Pinto, morador no bairro desde que nasceu, considera que a falta de higiene na zona é um problema. "Nos bares, é preciso consumir para ir à casa de banho e muitas vezes nem assim, por isso, fazem na rua", diz. Celestino Pinto é um dos residentes que sente o problema na pele, quando sai de casa de manhã e sente o mau cheiro. "Vão urinar à minha porta e, quando reclamo, ainda fazem má cara", conta ao JN. Para Augusto Silva, proprietário de um restaurante na zona, o problema está na falta de civismo dos noctívagos. "O Bairro Alto tem vandalismo. É rara a semana em que não me estragam tudo", denuncia, acrescentando que os riscos na parede o obrigam a pinturas constantes.
Carlos Madruga lamenta que o Bairro Alto tenha chegado a este estado. "O bairro não tinha esta imagem", lembra. "O barulho vai até às seis da manhã e a confusão é tanta que até o lixo já deixou de ser recolhido à noite", diz. Considerando que "não faz sentido uma situação destas no centro da cidade", acrescenta. A Associação de Comerciantes do Bairro Alto há muito que clama por melhores condições de higiene na zona, onde, cada vez mais, parece não haver rei nem roque. "Este é um problema gravíssimo a juntar a tantos outros. Toda a gente faz o que quer. Isto só está difícil para quem cumpre a lei", afirma Vítor Castro, presidente da associação. Aponta o dedo à falta de articulação das entidades que tutelam o bairro.
Fonte da Câmara avança, por seu turno, que, em matéria de higiene urbana, há uma "discriminação positiva" tendo em conta a dinâmica do bairro, sobretudo aos fins-de-semana, quando há maior afluência de pessoas."Não há um critério de qualidade para o tipo de comércio que se pretende para o bairro, o que leva ao aparecimento de bares sem condições nem espaço digno. Os jovens, aos milhares, são obrigados a ocupar a rua, sítio onde acabam por urinar em qualquer canto, à porta das casas ou das lojas", critica Vítor Castro. O responsável vai mais longe nas críticas "Em todos os pequenos espaços abrem bares, muitos são ilegais. Praticam preços apetecíveis e muitos nem têm casas-de-banho abertas ao público. Em dois ou três anos enriquecem e vão-se embora. Isto é terrorismo comercial e ninguém faz nada. O Bairro Alto está ao abandono".
O JN tentou ouvir, ao longo dos últimos dois dias, a presidente da Junta de Freguesia da Encarnação, mas sem êxito.

in JN