Friday, November 03, 2006

Falta de higiene revolta moradores

O autor é desconhecido, mas a obra tem feito furor no Bairro Alto e até arrancado algumas gargalhadas a moradores, transeuntes e comerciantes. Trata-se de uma casa de banho improvisada, criada por alguém que, com um toque refinado de ironia, vem chamar a atenção para um problema muito sério que tarda a ser resolvido.
"Mijáki" é o nome do projecto inovador. Dois painéis coloridos pintados a amarelo-vivo convidam os transeuntes a satisfazer as suas necessidades em urinóis improvisados no meio da rua. Por baixo de cada um dos painéis, com cerca de três metros de comprimento, está uma calha ligada a uma mangueira que despeja a urina para a sarjeta mais próxima.
As engenhocas foram detectadas pelos moradores da zona há uma semana, na Rua das Salgadeiras. Apesar de surpreendido, Celestino Pinto, morador no bairro desde que nasceu, considera que a falta de higiene na zona é um problema. "Nos bares, é preciso consumir para ir à casa de banho e muitas vezes nem assim, por isso, fazem na rua", diz. Celestino Pinto é um dos residentes que sente o problema na pele, quando sai de casa de manhã e sente o mau cheiro. "Vão urinar à minha porta e, quando reclamo, ainda fazem má cara", conta ao JN. Para Augusto Silva, proprietário de um restaurante na zona, o problema está na falta de civismo dos noctívagos. "O Bairro Alto tem vandalismo. É rara a semana em que não me estragam tudo", denuncia, acrescentando que os riscos na parede o obrigam a pinturas constantes.
Carlos Madruga lamenta que o Bairro Alto tenha chegado a este estado. "O bairro não tinha esta imagem", lembra. "O barulho vai até às seis da manhã e a confusão é tanta que até o lixo já deixou de ser recolhido à noite", diz. Considerando que "não faz sentido uma situação destas no centro da cidade", acrescenta. A Associação de Comerciantes do Bairro Alto há muito que clama por melhores condições de higiene na zona, onde, cada vez mais, parece não haver rei nem roque. "Este é um problema gravíssimo a juntar a tantos outros. Toda a gente faz o que quer. Isto só está difícil para quem cumpre a lei", afirma Vítor Castro, presidente da associação. Aponta o dedo à falta de articulação das entidades que tutelam o bairro.
Fonte da Câmara avança, por seu turno, que, em matéria de higiene urbana, há uma "discriminação positiva" tendo em conta a dinâmica do bairro, sobretudo aos fins-de-semana, quando há maior afluência de pessoas."Não há um critério de qualidade para o tipo de comércio que se pretende para o bairro, o que leva ao aparecimento de bares sem condições nem espaço digno. Os jovens, aos milhares, são obrigados a ocupar a rua, sítio onde acabam por urinar em qualquer canto, à porta das casas ou das lojas", critica Vítor Castro. O responsável vai mais longe nas críticas "Em todos os pequenos espaços abrem bares, muitos são ilegais. Praticam preços apetecíveis e muitos nem têm casas-de-banho abertas ao público. Em dois ou três anos enriquecem e vão-se embora. Isto é terrorismo comercial e ninguém faz nada. O Bairro Alto está ao abandono".
O JN tentou ouvir, ao longo dos últimos dois dias, a presidente da Junta de Freguesia da Encarnação, mas sem êxito.

in JN

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