Tuesday, June 06, 2006

Fachadas do Bairro Alto estão cheias de 'rabiscos'

As "assinaturas de rua" nas paredes, conhecidas no mundo do graffiti como tags, estão a alterar as características estéticas do histórico Bairro Alto, sendo que alguns edifícios apresentam já uma afectação ao nível do primeiro andar. Moradores, comerciantes e junta de freguesia classificam esta prática relativamente recente como "actos de vandalismo". Os autores das assinaturas dizem que o fenómeno é inevitável, por o bairro ser um "ponto de passagem e de diversão nocturna".Maria Muller tem 86 anos e vive desde os 17 no Bairro Alto. A porta da sua casa está há muito pintada com spray. "É uma porcaria, mas não tenho idade para limpar aquilo", afirma resignada.
A idosa já se habituou ao que considera "uma pouca vergonha". "Se viesse cá o Salazar dava-lhe um ataque de coração", graceja.Os comerciantes, que são obrigados a trabalhos de limpeza nas fachadas, também estão incomodados com o cenário. Só este ano, Dora Mauaie já pintou por três vezes as paredes da farmácia, enquanto Paulo Pirra limpa a fachada do restaurante "sensivelmente de 15 em 15 dias". Rakesh, proprietário de uma velha mercearia, considera as acções "normais para a rapaziada de agora" e define o fenómeno como um "problema geracional". O filho de sete anos até já lhe pediu um spray "por influência das telenovelas", conta. Perante os turistas, continua Rakesh, é que a zona "fica mal vista".
Cary Fritz, uma alemã que almoçava ao sol numa esplanada do bairro, confirma não gostar do que vê: "Os edifícios até são bonitos, mas parecem sujos.""Queremos mostrar a 'crew'"O DN falou com alguns graffiters que não quiseram ser identificados, mas reconheceram escrever tags. "Também contribuímos para aquilo, é uma forma de publicidade à crew", conta um deles. Mesmo entre os graffiters, as opiniões sobre os tags são distintas.
"Eu percebo as queixas, isto fica feio", confessa um outro. Todos concordam que o Bairro Alto vai ser "para sempre um alvo privilegiado" destas expressões. E explicam porquê: "Isto já não tem retorno, o bairro é um ponto de passagem, sobretudo à noite, e vai ser sempre pintado." "Noutros sítios o problema é ter marcas de bala, se aqui o problema deles é esse...", concluiu, com ironia, o graffiter mais rebelde.
in DN